quarta-feira, 26 de julho de 2017

Como as crianças chegaram ao poder

Por Rogério Fernandes Lemes*
www.portalaz.com.br
Este artigo traz o título do livro do psiquiatra David Eberhard sobre a realidade da sociedade sueca décadas após proibir palmadas nas crianças. A discussão tem gerado muita polêmica e dividido opiniões. Para alguns especialistas, as crianças suecas são as mais felizes do mundo. Outros afirmam serem elas as mais mimadas e sem educação.
A Suécia inovou ao proibir castigos físicos na educação de crianças. Em 1979, o país incorporou em seu código penal tendo o Estado como proponente de outras formas de educação como, por exemplo, a colocação da criança no centro das preocupações sobre aquilo que for melhor para seu integral desenvolvimento. Ouvir as crianças apenas não basta. O governo sueco desenvolveu um curso para os pais com dificuldades na criação dos filhos.
A dissolução afetiva entre pais e filhos, segundo o Governo, é a grande responsável pela preferência aos castigos físicos que, a longo prazo, não significa garantia de adultos confiantes e autônomos. Eberhard aponta as crianças sueca como extremamente mal educadas. Elas decidem, por exemplo, o que assistir na TV; a hora de dormir; quais os alimentos comer; ou, a roupa que vestirão.
Depoimentos de educadores suecos reforçam a afirmação do psiquiatra. Um professor relatou que quando pediu para um aluno de cinco anos resolver um exercício em sala de aula, a criança respondeu-lhe: “Você acha que eu quero fazer isso?”. Ao longo de quatro décadas as ‘crianças no centro’ restringiram toda e qualquer forma de correção ou imposição de limites.
No Brasil uma conversa entre duas mulheres vazou na internet e tem movimentado as redes sociais. Para algumas pessoas trata-se de uma “preocupante inversão de valores na educação infantil”. A conversa chamou a atenção pelo fato de um menino ter reclamado para sua mãe que não o deixaram brincar com um brinquedo.
A mãe tirou satisfações através de mensagens no celular. Questionou o porquê da proibição? A mulher explicou que possui peças colecionáveis, que além de serem caríssimas, não estavam na área social de sua residência. A mãe questiona a possibilidade do filho ficar doente e chamou a mulher de egoísta. Ela reforça seu argumento de indignação pelo ‘não’ que o filho recebeu alegando que ele é apenas “uma criança”. Afirma que irá levá-lo novamente na casa da mulher e que ele brincará, ‘sim’, com os brinquedos.
Independente das culturas, a essência humana é a mesma. Isso não é um pensamento determinista. Isso é um fato biológico, psíquico e emocional. O ser humano, sem limites, é um aspirante a tirano. Essa é a tese defendida por David Eberhard. Para ele, a Suécia criou uma geração de pequenos tiranos e talvez devesse se questionar se tal decisão não foi longe demais.
E no Brasil? Qual a melhor decisão a ser tomada? Certamente que as opiniões são as mais variadas, e isso é um bom sinal, pois a tão falada autonomia e autodeterminação dos povos confere ao indivíduo sua maneira subjetiva de entendimento sobre aquilo que é melhor para si. E isso bem que poderia ser respeitado.
Na esfera particular e que não serve de modelo a ninguém, todos os dias digo ao meu filho de três anos e meio que ele é forte, inteligente, um menino amado por seus pais e que, por tudo isso, deve retribuir os cuidados e o comportamento educado que recebe. De umas semanas para cá ele tem ponderado minhas decisões como pai, principalmente as que cerceio suas vontades. A reação é imediata: “você é fustante papai; você não vai na minha festa hoje”. Motivado pelas falas dos desenhos animados que assiste, ele diz que sou frustrante ao impedi-lo de fazer algo e, não satisfeito, ameaça de impedir minha participação na sua festinha de aniversário.
Então o levo a refletir comigo, como primeira instância de uma resolução pacífica desse litígio, sobre as coisas que me entristecem como, por exemplo, quando ele resolve me punir não permitindo que eu participe dos momentos únicos de sua vida. Digo a ele que quero muito estar na sua festa de aniversário, mas que ele não fará aquilo que bem entender, pelo menos enquanto estiver sob meus cuidados e responsabilidades de pai.
Finalizamos com um abraço e muitos beijos. Ele sempre arremata: “eu ti amo papai; eu tô feliz com você hoje”.

*Vice-Presidente da União Brasileira de Escritores/MS.
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