sábado, 18 de fevereiro de 2017

O seu lado do muro poder ser sua muralha intelectual

Por Bianca Marafiga*
Imagem: http://blog.mercadrone.com.br

Por que o medo de residir em cima do muro? Por que precisamos decidir pelo sim ou pelo não? Transitar por entre caminhos de direita ou esquerda? Ou então decidir por ser ou não ser? Pois é, “EIS A QUESTÃO” já dizia Shakespeare.
Há um dito popular que diz “quem vive em cima do muro é gato”. Partindo desse pressuposto, talvez felinos tenham muito a nos ensinar. Isto porque, diante da contemporaneidade de um mundo onde as falácias “facebookeanas” se alastram como um vírus mortífero, estar sob o muro ainda seja uma opção sadia.
Vivemos em uma sociedade moldada pelas decisões e implicações do imediatismo, se não pensarmos rápido perdemos os prazos, oportunidades, capitais e até mesmo as relações sociais. Ou seja, o pensamento reflexivo torna-se no mundo atual um artigo de luxo. Não decidir o seu lado do muro torna-nos ignorantes e fracos.
Estar indeciso em determinados momentos e não posicionar-se diante de uma discussão, não reflete a incapacidade intelectual. Pelo contrário, pode ser promissor, principalmente porque seres humanos tem a capacidade de enxergar os dois lados da moeda, encontrando coerência em ambos ou em nenhum. Mas para isso é preciso entender que por vezes dois ou mais posicionamentos podem fazer sentido a ponto de completar-se.
Aristóteles nos ensina que a “dúvida é o princípio da sabedoria”. Portanto as convicções plenas podem ser arriscadas, uma vez que o equilíbrio é o centro da plenitude humana.
Ora! Por que eu devo pensar que sempre há uma única verdade absoluta? Seria no mínimo incoerente não desfrutar de uma espiadela por cima de um muro alto. Se ele existe porque ignorá-lo?
Na filosofia moderna podemos considerar o relativismo cético, que consiste em desconsiderar a existência de uma verdade objetiva e muito menos absoluta. Por isso defender algo com totais convicções pode ser no mínimo arriscado e limitante. E mesmo que esta seja uma escolha em grupo, não podemos desconsiderar que o coletivo também pode errar tanto quando o individual.
A falta de relativismo retira toda a subjetividade humana, excluindo as possibilidades de novos conhecimentos e abertura para o novo. Isto se dá na intolerância política e social, podendo ocorrer nos mais diversos âmbitos. Seja uma “filosofia de bar” ou dentro de uma universidade. Aliás uma reflexão importante: intelectuais também podem excluir o relativismo, adotando medidas descabíeis, levantando bandeiras da intolerância, manipulando consciências e formando opiniões em massas de manobra. O que infelizmente é mais comum do que se pensa.
A obra de Nietzsche intitulada como “A Gaia Ciência” nos ensina a possiblidade de um novo infinito, ou seja, "o mundo para nós tornou-se novamente infinito no sentido de que não podemos negar a possibilidade de se prestar a uma infinidade de interpretações". Ter um lado por vezes é perigoso e irracional demonstrando muitas vezes a falta de conhecimento e amplitude das diversas vertentes ideológicas.
Obviamente que não devemos excluir nossos posicionamentos, mas que eles estejam pautados nas diversas observações não descartando nenhuma posição. Pois já dizia machado de Assis: “a arte de viver é tirar o maior bem de todo o mal”.
Talvez seja preferível viver em cima do muro distribuindo flores para ambos os lados ao invés de estar de um dos lados ateando bombas compostas pelo ódio gratuito e falácias destrutivas. Estar sob o muro pode ser uma forma de libertação e amplidão dos fatos.
Pois as situações podem ser transitórias, mas as relações não precisam assim ser.

* Bióloga
Especialista em Educação e Gestão Ambiental
Mestre em Biologia Geral/Bioprospecção

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