sábado, 25 de fevereiro de 2017

Impessoalidade, quanto atinge você?

Por Maria Teresa Freire*
Curitiba, PR, Brasil
@: freire.mteresa@gmail.com 

Imagem: http://www.thuanythome.com
Impessoalidade. Ausência de envolvimento sincero, interessado nas pessoas, situações e fatos. Ausência de entusiasmo, ideais que demandem envolvimento. Característica do século vinte e um? Não, obrigatoriamente.

Percebo as pessoas comparando as tendências atuais com as de anos atrás. Divulgando, comparando músicas, filmes, folguedos, distrações e principalmente relacionamentos. Enfim, vários aspectos da vida. Comentam que as anteriores eram melhores.

Entretanto, vejo as situações adequadas ao seu tempo. Temos, agora, à nossa disposição a tecnologia que tem caracterizado de modo diferente e exponencial as nossas vidas. O trabalho, o estudo, o lazer, a informação, as distrações e principalmente os relacionamentos.

O que há de tão diferente nos relacionamentos? Se a telecomunicação aproximou todos, tornou possível o contato com qualquer pessoa em qualquer ponto do planeta, se os transportes desenvolveram-se promovendo o deslocamento ágil entre cidades e países, o que mudou nos relacionamentos, então? A impessoalidade.

Não me refiro ao serviço em prol da população que deve ser impessoal, ou seja, beneficiar ao conjunto da população e não ao interesse de um ou de poucos. Refiro-me aos contatos interpessoais e grupais, aos engajamentos às campanhas que se proliferam ao redor do mundo. Para salvar natureza, animais, pessoas. Para o desarmamento, contra a violência, drogas, prostituição, tráfico de crianças e mulheres e tantas mais. Quantos se engajam? Pequena parcela da população mundial. Impessoalidade. Na falta do engajamento, do envolvimento.

A contemporaneidade nos ofertou uma gama de facilidades tecnológicas que nos deram conforto inadmissível no início do século vinte. Entretanto, no século vinte e um passou a ser condição normal para parte da população, sobretudo aquela dos grandes centros urbanos.

Então, por que a impessoalidade? Porque grande parte do que fazemos é intermediada pelos aparelhos, que são ‘condutores da telecomunicação’. Serviços bancários, informações gerais, pesquisa, enfim temos ao nosso dispor esses ‘condutores’ que nos permitem resolver grande parte de nossos compromissos.

Questiono novamente: onde está a impessoalidade? Na falta do contato pessoal. Pelo WhatsApp é possível conversar com as pessoas estejam onde estiverem. Todavia, o interesse vai até certo ponto. No momento crucial de uma séria dificuldade a ‘preocupação’ não vai além de uma mensagem: “Ah! Espero que tudo dê certo. Estou do seu lado. O que eu puder fazer me fale. Fique bem. Beijos, abraços, etc., etc.... “Que lado? Será a pessoa teletransportada?

Se é aniversário ou outra data importante a ser comemorada, mais uma mensagem, com imagem colorida, impactante. Se moram longe, isso é admissível. Os e-mails seguem a mesma ‘filosofia’ (digamos assim). Para enviar textos mais longos, com apresentações, explicações, argumentações, pontos de vista. Para alguém que mora em outra cidade, admissível. Para os que moram na mesma cidade, serve para envio de documentos em geral, sem necessitar impressão. Igualmente admissível.

Os sentimentos passaram a ser descritos nas mensagens eletrônicas. Não nos encontros pessoais. Portanto, tornam-se impessoais. A facilidade em conhecer pessoas que moram distantes tornou-se óbvia. Conversas curtas, longas. Relatando sobre assuntos pessoais, de trabalho, de estudo, da conjuntura nacional, fatos em geral. Despertando interesse, namorando, amando. Mas, sem encontros pessoais. São, portanto, sentimentos impessoais.

Contatos sem voz e rosto. Em sua maioria. Com imagens vistosas e dizeres prontos. Impessoais. Às vezes gravam, às vezes falam por telefone, às vezes enviam fotos. Quando moram em diferentes cidades, isso é compreensível. Porém, na mesma cidade? Sem encontros pessoais? Impessoalidade.

Entretanto, não é somente pelos ‘condutores telecomunicativos’ que a impessoalidade acontece. Também nos próprios contatos pessoais. Nos relacionamentos superficiais, que não tem tempo e disposição para o acompanhamento de detalhes relevantes da vida do outro. Sem densidade, com medo do envolvimento, do incomodo, do desconforto. Sem interesse porque não é seu problema, sua doença, sua alegria, sua conquista. Porque terá que ser parcial, verdadeiro, honesto, engajado.

A impessoalidade se alastra. Contamina. Junta pessoas, mas não amigos. Acompanhados, pois faz parte do mundo impessoal ter grupos para sair, falar no whats, divertir-se. Compartilhar amizade sincera? Isto é pessoal. Foge à regra da impessoalidade que assola a sociedade ávida para desfrutar, usufruir, aproveitar, saciar-se. Impessoalmente. Dessa forma, não compromete. Não desafia. Não difere. Não aborrece. Não atinge o âmago, nem abala as estruturas fragilmente erguidas. Passíveis de liquidez. Impessoalidade mantida, sofrida, porém vivida.

Maria Teresa Freire
MARIA TERESA MARINS FREIRE. Carioca, divide moradia entre Curitiba (PR) e Itajuba/Barra Velha (SC). É Doutora em Comunicação e Saúde (PUCPR), Mestre em Educação (PUCPR), Graduada em Comunicação Social/Jornalismo (UFPR), Graduada em Langue et Civilisation Françaises (Universidade de Nancy, França) e Proficiente em Língua Inglesa (Michigan State University, EUA). Professora de Graduação e Pós-Graduação de Jornalismo, Relações Públicas e Publicidade e Propaganda. Consultora em Educação e Comunicação. Escritora com três livros publicados: Planejamento, uma arte, uma necessidade (2015); A comunicação no ambiente empresarial (2016); Comunicação para a promoção da Saúde Coletiva (2016). Várias publicações em Revistas Científicas. Participações em Congressos nacionais e internacionais. Cronista com publicação em sites literários. Apraz-me escrever! E também, mas não por fim, artista plástica. 

13 comentários:

  1. Muito profundo este texto... Profundo e apropriado. Os relacionamentos vão se perdendo à mesma velocidade que as tecnologias avançam... Importante mesmo é não se afastar do 'antigamente': um bom café com as amigas, a leitura de um bom livro, um convite, um comparecimento... é bem assim, como nos mostra a autora...

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    1. Obrigada por se engajar e comentar! Um mmento pessoal é muito importante!

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  2. Complicado isso de não poder ter contato pessoal, mesmo quando estamos próximos um do outro. Hoje mesmo tive uma experiência desse tipo. Tenho amizade com um senhor de 85 anos. Há tempos não converso com ele. Hoje fui à casa dele, para conversar - como amigos que somos - e obter informações sobre a nossa cidade e seus moradores mais antigos. Quando a empregada atendeu à porta pedi para avisá-lo de quem estava ali e se ele poderia ou não me receber. Ela voltou em seguida e disse, sem maiores detalhes, que ele viria falar comigo. Aguardei quinze minutos, chamei novamente e ninguém atendeu. Fui embora sem saber o que aconteceu. Concluí que seria mais fácil falar com ele pela rede social. Infelizmente é assim... O tempo urge, tudo é muito acelerado, nossa paciência caminha na contra-mão. Enfim, estamos todos conectados mas mais solitários do que nunca.

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  3. Nem a proximidade geográfica facilitou seu contato; infelizmente, parece-me que as pessoas estão se tornando temerosas do contato face a face; que bom que participou comentando!

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  4. A distância física não é medida em metros ou km, mas sim, na maioria das vezes, pelo interesse pessoal ou condições financeiras (para os casos mais distantes, obviamente). Para os casos mais próximos depende mais da agenda de cada um e de como ambos administram o tempo. A empatia e o momento de cada um também conta, pois nem sempre os dois estão alinhados, mental ou emocionalmente, quando alguém procura outro. Foi o que aconteceu comigo, eu estava num momento (interessado no contato pessoal e na conversa específica), ele estava em outro momento (com outras preocupações ou prioridades). Dificil, às vezes, conciliar isso...

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  5. A distância física não é medida em metros ou km, mas sim, na maioria das vezes, pelo interesse pessoal ou condições financeiras (para os casos mais distantes, obviamente). Para os casos mais próximos depende mais da agenda de cada um e de como ambos administram o tempo. A empatia e o momento de cada um também conta, pois nem sempre os dois estão alinhados, mental ou emocionalmente, quando alguém procura outro. Foi o que aconteceu comigo, eu estava num momento (interessado no contato pessoal e na conversa específica), ele estava em outro momento (com outras preocupações ou prioridades). Dificil, às vezes, conciliar isso...

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  6. A distância física não é medida em metros ou km, mas sim, na maioria das vezes, pelo interesse pessoal ou condições financeiras (para os casos mais distantes, obviamente). Para os casos mais próximos depende mais da agenda de cada um e de como ambos administram o tempo. A empatia e o momento de cada um também conta, pois nem sempre os dois estão alinhados, mental ou emocionalmente, quando alguém procura outro. Foi o que aconteceu comigo, eu estava num momento (interessado no contato pessoal e na conversa específica), ele estava em outro momento (com outras preocupações ou prioridades). Dificil, às vezes, conciliar isso...

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  8. ...
    A distância física não é medida em metros ou km, mas sim, na maioria das vezes, pelo interesse pessoal ou condições financeiras (para os casos mais distantes, obviamente). Para os casos mais próximos depende mais da agenda de cada um e de como ambos administram o tempo. A empatia e o momento de cada um também conta, pois nem sempre os dois estão alinhados, mental ou emocionalmente, quando alguém procura outro. Foi o que aconteceu comigo, eu estava num momento (interessado no contato pessoal e na conversa específica), ele estava em outro momento (com outras preocupações ou prioridades). Dificil, às vezes, conciliar isso...

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  9. ...
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  10. A distância física nem sempre é medida em metros ou km, mas sim, na maioria das vezes, pelo interesse pessoal ou condições financeiras (para os casos mais distantes, obviamente). Para os casos mais próximos depende mais da agenda de cada um e de como ambos administram o tempo. A empatia e o momento de cada um também conta, pois nem sempre os dois estão alinhados, mental ou emocionalmente, quando alguém procura outro.

    Foi o que aconteceu comigo, eu estava num momento (interessado no contato pessoal e na conversa específica), ele estava em outro momento (com outras preocupações ou prioridades). Dificil, às vezes, conciliar isso...

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  11. A distância física nem sempre é medida em metros ou km, mas sim, na maioria das vezes, pelo interesse pessoal ou condições financeiras (para os casos mais distantes, obviamente). Para os casos mais próximos depende mais da agenda de cada um e de como ambos administram o tempo. A empatia e o momento de cada um também conta, pois nem sempre os dois estão alinhados, mental ou emocionalmente, quando alguém procura outro.

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  12. A distância física nem sempre é medida em metros ou km, mas sim, na maioria das vezes, pelo interesse pessoal ou condições financeiras (para os casos mais distantes, obviamente). Para os casos mais próximos depende mais da agenda de cada um e de como ambos administram o tempo. A empatia e o momento de cada um também conta, pois nem sempre os dois estão alinhados, mental ou emocionalmente, quando alguém procura outro.

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