Imagem: bibliotecaegn.files.wordpress.com |
A pessoa de Fernando, um português criador de personagens, no minuto limítrofe de sua finitude escolheu despessoar sem negar sua humanidade. O humano, contingente e limitado, peculiaridades estas que o mantém desacabado, quando sincero consigo mesmo reflete, na pessoa de Fernando, sua mais subjetiva condição: saber que nada sabe.
Ainda que no mundo marcas imprima; ainda que mentes ávidas prestam-lhe glórias e cantem suas pessoas criadas, não podem agregar-lhe certeza alguma. Sozinho seguiu a pessoa de Fernando a vida inteira, ou o pedaço dela que se cumpre aqui na terceira dimensão. No limite das certezas observáveis, já quase convalido totalmente pela moléstia, sobram-lhe dosada força, na medida para o exercício tão conhecido e praticado: o fazer borrões em páginas em branco.
Escreve a cansada mão da pessoa de Fernando: “eu respondo ao título deste texto... Eu sei que disso tenho a única certeza que tanto busquei”. Estas são palavras não ditas e subjacentes naquele leito mortal. De fato, o que escrevera a pessoa de Fernando fora outra coisa; parecida quando explicada, mas diferente aos desatentos.
“I know not what tomorrow will bring”. O desassossego existencial curvou-se ante ao desconhecido, até mesmo pelos poetas. Sua minguada força imortalizou-se na célebre frase da pessoa de Fernando: “não sei o que o amanhã trará”.
Ao descansar, o gigante português, elegantemente permaneceu humano e sincero.
O amanhã é o hoje bem ou mal vivido. O amanhã trará, seguramente, as reações das escolhas do hoje. Se boas reações ou não, quem o saberá? Nem mesmo Fernando Pessoa cedeu à tentação das previsões. Juntou-se ao rol dos pensadores que, ainda hoje, fazem-nos lembrar desse constante caminhar, seguros de que o amanhã não nos pertence, pelo menos até o momento em que chega para nós tornando-se o nosso hoje.
Você escreve com o cuidado extremo de um crítico literário. O que o Brasil está precisando com urgência.
ResponderExcluirSensacional!
ResponderExcluirLindas e sinceras palavras. "O amanhã é o desconhecido do nosso viver"... abraço poético.
ResponderExcluirRealmente o futuro pertence a a vida o que devo completar, pois se a morte chega o futuro pertencera entao a outros que continuem vivendo, afinal o hoje e o ontem sao reflexos dos que ja se foram e de alguns que ficaram para testemunhar as conquistas.Parabens amigo escritor Rogerio,belo texto.
ResponderExcluirParabéns, Rogério!
ResponderExcluirBelo texto
Muito bom Rogério, ja aprendi algo hoje. Eu também sei que nada sei!
ResponderExcluiraté ja
Excelente texto! Parabéns!
ResponderExcluir